Terça-feira, 26 de Setembro de 2006

Fotonovelas...

Já aqui falei da leitura dos meus tempos de palmo e meio, não falei foi de uma «literatura» que eu folheava à socapa e que naqueles tempos, se bem me lembro tinha os seguintes dizeres na capa: não aconselhável a menores de 18 anos, acho que era mais ou menos isto.
A minha irmã, mais velha do que eu, adolescente, mais ou menos em idade namoradeira, tomava a tarefa de consumir esta leitura de empreitada. Assim, não haviam revistas ditas «fotonovelas» que lhes chegassem, e aqui é que entro eu.
- Vai lá pedir à D. Amélia uma revistinha para a mana, vai lá…
- Hum…que é que me dás?
- A mana compra-te uma pastilha elástica.
- Hum…«tá» bem, eu vou.
A minha irmã de tal forma rejubilava que até me dava mais mimos do que era habitual…
Lá ia eu a correr à casa da D. Amélia, no dia seguinte ia à casa da tia Catarina (era mesmo tia) que também consumia aquela literatura de uma forma infatigável, e depois haviam todas as outras senhoras vizinhas, familiares, amigas ou simples conhecidas que formavam um circuito de literatura «fotonovelar» que compreendia ainda uma grande área. As que compravam eram sempre as mais velhas, já casadas que ainda teimavam em esperar pelo príncipe encantado e que depois emprestavam às mais novas, havia uma troca de revistas que era um verdadeiro pandemónio.
A minha irmã regalava-se com os Capricho, Corin Tellado, Ilusão…que lhe trazia.
Perguntam-me vocês: Porque é que ela mandava cá a mana pedir emprestada a «literatura»? Tinha um bocadinho de vergonha, própria da adolescência  e os mais pequenos não têm vergonha nenhuma.
Quando podia eu dava uma espreitadela sorrateiramente às revistas, as quais, claro está, ela não me deixava ler.
Depois essa fase passou, é claro, ela abandonou esse tipo de leitura. E quem começou? Eu, naturalmente. Deixei a Formiguinha e passei a dedicar-me de corpo e alma às «fotonovelas» que nesse tempo se multiplicavam. Já eram todas super, as chamadas «supernovelas» lia-as todas fresquinhas, a minha amiga da época gastava um dinheiro desmedido nessas revistas e o monte tinha de ser dividido, portanto, a maior parte das vezes quem as lia primeiro era eu. As que vinham do Brasil, julgo que originárias da Itália e depois traduzidas no Brasil eram as minhas predilectas, não gostava por exemplo do Corin Tellado apesar de ser a cores, cujas fotonovelas tinham o nome da autora, não apreciava porque os apaixonados estavam sempre distanciados um do outro e quando se beijavam mal encostavam os lábios. Que seca!
Depressa me fartei destas revistas, destes amores das mil e uma noites, quando me lembro que perdia o meu tempo lendo sofregamente aquelas resmas de papel penso: como é possível? Era mesmo eu? Claro que era eu, uma prova disso talvez sejam aqueles excertos que de vez em quando escrevo por aqui. Talvez influências dos romances aos quadradinhos.
Hoje trouxe à memória fotonovelas...Será que ainda existem? Não me parece...

(Img retirada da Internet)
Escrevinhado por gaivota da ria às 00:02
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Terça-feira, 19 de Setembro de 2006

Afirmo que...

Escrevinhado por gaivota da ria às 00:30
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Sábado, 16 de Setembro de 2006

Com os últimos raios de sol..

Ela baloiçava-se em rede de pensamentos, levando aos lábios, de vez em quando, a frescura de um néctar de transparência celeste, trauteando uma mistura de melodias fora de moda.
De súbito, surgido por entre a poeira do caminho serpenteia um carro devagar chegando até ela.
Descalça e vestida levemente de beije veio ao encontro dos olhos, que sorrindo criavam sensações que se entrelaçavam nas folhas de palmeiras e vinham na brisa fazendo-a levitar.
A camisola dele colava-se-lhe às costas e os dois botões desabotoados deixavam ver o peito nitidamente desenhado e um fio muito fino que brilhava aos últimos raios de sol.
Da pergunta que ele lhe fazia conseguiu apanhar algumas palavras, avaria, oficina…as outras perderam-se por entre vales que nem se avistavam dali…
Fitou-a directamente e ela sentiu uma perturbação interior. Os olhos de ébano, a cara bronzeada, o cabelo de azeviche pincelado de prata, a maneira desenvolta de andar, agitaram-lhe sensações irresistíveis. Impressões que ordenam de novo o espaço molecular entre macho e fêmea e que não depende das espécies. Ali, naquele instante, confirmou a si própria que as sensações ainda são inabaláveis possuidoras de um poder genuíno. Tão simples quanto o néctar transparente com sabor celeste com que ela se refrescava naquele fim de tarde…
 
 
 

Não sabia se eram os jeans dele levemente justos ou se era a maneira desenvolta que já lhe tinha notado no andar que a fizeram estremecer. Ou seria a brisa por entre as folhas das palmeiras como risinhos zombeteiros dançando cúmplices no ar?...

E ele aproximou-se mais, tanto que lhe pode sentir o seu cheiro…

Finalmente a resposta:

- Sei de uma oficina se é que assim lhe podemos chamar a poucos quilómetros daqui, não sei é se consegue encontra-la neste fim de mundo…

- Serei ousado se lhe pedir para ir ensinar-me o trajecto? Prometo que não serei uma companhia muito importuna…

- Vou! – Foi só a palavra que conseguiu articular quase num grito como se tivesse medo que ele fosse sozinho e nunca mais o tornasse a ver.

Entrou no carro e ele sorriu:

- E agora para onde?

Ela sentiu-se como uma adolescente em falta, ruborizada com os pensamentos que lhe afloraram a mente…

- É para a esquerda e depois sempre em frente por esse trilho estreito.

E seguiram aos solavancos por entre o pó do difícil carreiro…

- Sou o Luciano e faço parte de uma equipe que tem como função estudar o impacto ambiental, neste caso procuramos investigar os prós e contras de uma estrutura turística que se pretende construir perto daqui.

- Ah, sim, ouvi falar, ainda não pensei sobre isso… (Meu Deus, como poderia ela encontrar uma resposta coerente se lhe sentia o respirar e esse simples e quase inaudível ruído que lhe desorganizava sensações que se confundiam em torvelinho?!)

(Foi uma tentativa literária, é assim que se diz?! Os últimos raios de sol ainda aquecem a caixinha cinzenta e depois é o que dá! Dá nisto, príncipes e princesas, machos e fêmeas transportados para uma redacção! Boa semana!)
Escrevinhado por gaivota da ria às 00:10
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Quinta-feira, 7 de Setembro de 2006

Mais restos de Verão...

Outro som de resto de Verão lá fora, desta vez cascos de cavalos no asfalto. Estes animais que percorrem  a cidade de lés a lés.
Tenho-me perguntado: será que estes animais são os mesmos desde a manhã até a altas horas da noite? Tenho esperança de que não, de que são substituídos com intervalos de tempo aceitáveis. Será que estes animais são imunes ao calor, ao cansaço, será que são insensíveis às luzes que encandeiam sem compaixão? Fico sempre a olhar para as «charretes» lotadas de turistas alegres abrindo sorrisos contrastando com o olhar cansado e triste do animal, quiçá fruto da minha imaginação, da minha sensibilidade mais derretida neste Verão…Quem sabe…
Mas, mesmo assim, fico pensando, que tranquilo seria, romântico até, um passeio de charrete ao fim da tarde por estradas ao longo do rio com paisagens campestres ladeando gargalhadas de crianças…
De repente, o barulho das ferraduras no asfalto param, vou à janela, vejo o cavalo parado, fazendo em vão um esforço sobrenatural para subir a ladeira íngreme e em seguida vejo os turistas apearem-se e começarem a empurrar o veículo, o cavalo lá vai movendo as patas muito a custo, cabisbaixo, sigo-o até ele dobrar a esquina que é  a poucos metros mas que,  para ele, de certeza pareceu-lhe a caminhada para o infinito. A mim pareceu-me…
Venho para dentro perturbada, e fiquei pensando como seria possível ele aguentar assim até chegar ao seu destino…Não devo perceber nada destes animais…O stress citadino deve passar-lhes ao lado. Será?
(Img. daqui)
Escrevinhado por gaivota da ria às 00:14
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