Mês de Agosto a despedir-se, lá fora os últimos sons de uma noite quente, acordes que já parecem transmitir um pouco da nostalgia das coisas que acabam…
Mês em que a cidade abarrotou como todos os anos como se não houvesse altura melhor para férias do que o mês de Agosto, compreende-se que algumas pessoas não terão mais alternativas pela natureza do emprego, pelas férias dos filhos, etc.…mas e as outras pessoas que podiam escolher outro mês para descansar esquecendo que o ano tem doze meses…
Praias? Para ficar com uns dois metros quadrados em que estendo a mão para apanhar o chapéu e apanho um chinelo deixado à pressa por quem já correu para a água e tem de estudar bem a rota para não chocar com braços, pernas e afins?!
Festinhas? Para quê, se já temos tantos decibéis a perfurarem-nos os tímpanos em autenticas discotecas ambulantes todos os dias?
Este ano a má-educação aprimorou–se mais do que em anteriores anos, notei isso em muitos locais, principalmente em grandes supermercados, num deles fui testemunha de um episódio caricato, um senhor de calção e t-shirt que ficou completamente possuído por maus instintos por uma senhora lhe ter passado à frente, a senhora não fez bem, claro que não, mas é obvio que ele teria de ter estado com atenção a quem lhe passasse à frente sorrateiramente mas o pior de tudo é que o senhor colérico começa a queixar-se da coitada da rapariga da caixa que cabisbaixa tentava despachar a bicha a tempo recorde e como ela permanecesse calma exigiu falar com o gerente, aí disse em altos berros:
- Quando chegar a Lisboa(aqui, ele encheu muito o peito)eu trato disto, isto não fica assim!
Saí do supermercado e ele ainda lá ficou completamente alucinado.
Dará prazer passar umas férias assim?
E depois há os condutores, este pequeno Autódromo transformou-se num autêntico Hipódromo de má-formação.
Um destes dias lá venho no meu carrito, pronta para estacionar num dos lugarezinhos disponíveis quando em sentido contrário para chegar antes de mim, estaciona um carro, o lugar seria para mim, se fossemos pela ordem natural de numeração, mas não ligaria a esse pequeno pormenor, há que desculpar, dar um desconto, há poucos lugares para estacionar, o presidente não quer carros na cidade, etc. etc. se não fosse o dito senhor encurtar o trajecto pondo o carro estacionado em sentido contrário ao lógico, saio do carro, entrelaço o cabelo nos ramos e folhas da arvore que estão à minha espera, olho para o carro, para o senhor e nada digo, mas os meus olhos devem ter dito algo porque ele diz-me em tom de desdém:
- Ó minha cara, não me diga que não cabem aqui dois carros?! (Aqui, este quase rebentou o peito)
- Claro, tanto cabem que já estão estacionados, mas acha que o seu está bem estacionado?
- Ora, se aparecer a polícia pago a multa, minha cara! Mas eu tiro o carro se é isso que quer!!!
- Não precisa estar com esse trabalho! Por quem é! Eu vou estacionar mais abaixo, sou moradora aqui mas não faz mal, até faz bem andar a pé, volte sempre, boas férias!
Não esperei por resposta. Sou uma santinha!
Agosto está a acabar, que saudades das minhas dunas em pleno Agosto, onde quase não precisava de protector solar, que saudades daquele dia em que os únicos na praiazinha éramos eu e uma amiga a torrar ao sol numa amena cavaqueira, maminhas ao léu e de repente constatamos que afinal não éramos as únicas quando vimos um homenzinho todo atrapalhado a desfazer-se em mil desculpas correndo atrás das folhas do jornal!
Quando é que o cativeiro
Acabará em mim?
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
(Fernando Pessoa)